quarta-feira, 29 de maio de 2013

segunda carta à ilha dos aborígenes e algumas histórias de pescador...

recomendo a pequena lista de vídeos (por causa do áudio)... para ser ouvida enquanto se lê, bem como foi ouvida enquanto se escrevia.... esta aqui, vou chamá-la de 'doo'

então, eu havia meditado em mil maneiras mirabolantes de tratar disso. mas as vezes o mais óbvio e gritantemente simples jeito de se fazer é certamente o mais interessante. ferramentas todas dispostas, vontade exposta à ponta dos dedos sem proteção de queratina. é claro! eu tenho meu próprio salão de metáforas. exatamente aqui. onde hipérboles mil e semióticas multiplicantes me permitem qualquer manobra com uma liberdade extra. nesta hermenêutica sideral, está permitido muito mais que o habitual. perfeito!
mais perfeito ainda tendo em vista o fato de que meus caros amigos aborígenes em questão - e também a tubarão branco fêmea - costumam visitar estas estelares cercanias... do princípio:

boa tarde à todos os habitantes da pequena ilha. olá alegres terráqueos nus. anda comum por aqui um vídeo chacota de que o verdadeiro deus é um aborígene não se sabe de onde, fulano bastante gozador. é engraçadíssimo. vocês deveriam ver! gosto de pensar nos senhores e nas terras longínquas, gosto de pensar no barulho do vento desses lonjures. frequentemente confundem por aqui a sonoridade do joão - minha atual voz instrumental, o 'cara' à quem me refiro frequentemente como marreco. existem marrecos por ai? sabiam que eles são um tantinho mais roucos que os patos? e mais desengonços também... - confundem vira e mexe a voz do joão com vosso famoso e tribal instrumento: o didgeridoo! pois é... mas confundem também com berrantes, daqueles de chamar boi... minha amiga do mar também aprecia bois e caubóis, além dos peixes e da imensidão tempo-espaço-aquática. acho que só quem mora numa ilha sabe, de um jeito bem específico, o quanto a água interfere no nosso metabólico sistema tão líquido! tanto em matéria como em sentimentos... engraçado que o que me parece mais com marreco, que diz-se 'drake', é o primo mais comum, conhecido pelo nome de pato: 'duck' . então outro dia resolvi dar um título de nobreza ao meu querido companheiro... ele tornou-se duque! duque das terras de uberaba e uberabinha, do senhor marquês de sabará! mas, continua e continuará a ser de uma espécie pouco pouquíssimo conhecida. chamando-o pelo nome que for: fagote, marreco ou duque... poucos sabem do que se trata este instrumento. tanto faz. pra mim, de verdade, trata-se muito mais do que isso, muito mais que um simples sopro para soar. era um novo sopro de vida. está se esvaecendo. tenho a árdua tarefa de impelir esse 'boom' negativo de tomar conta de tudo... óô_u (who remembers icq? well, im seeking me!)

ainda, outra coisa nos aproxima absolutamente! a respiração. a minha para a prática instrumental, que também pode ser praticava como a vossa respiração circular com a mesma finalidade... a respiração de meditar sobre o tempo. que também ocorre no universo underwater - não é só de inspiração de expiração que consiste o ato de respirar. mas também de comunhão, de diferentes formas de agir e estar-se. as vezes se aproximando de uns, ou se afastando. outra coincidência é o double o [ oo ] o nome pros italianos remete à lenha dobrada para fogueira: fagote (e talvez eu já esteja mesmo quase ao ponto de queimá-lo para me aquecer... tempos atrás fiz um desenho com um circo pegando fogo, e o duque joão marreco estava na mesma fogueira! é a deusa da arte que poderia me alimentar... brava de tudo! em aboluta revolta natural contra mim, me destruindo sonhos e ações) mas em inglês se diz bassoon... como em doo, noo, etc

a história de pescador que queria vos contar é a seguinte: "tubarão apaixonada pelo pescador" e trata de uma história dessas de pegar nossos sonhos na rede. tipo a mariposa apaixonada de guadalupe que espera pelo seu caminhoneiro, por amor. diz a lenda que o pescador salvou-a de redes que, por engano, a levariam para a morte e, desde então e para sempre, ele nunca mais conseguiu pescar pois a tubarão ia atrás dele perseguindo seu barco onde quer que fosse, fazendo gracejo e pedindo carinhos e mimos. e assim foi que o pescador mudou de profissão. o caçador tornado amante. por imposição da magnitude da natureza. entra no mar apenas para cuidar dela, que sempre o espera. sempre o procura. sendo um mal e um bem ao mesmo tempo. como tudo. e lhes conto aqui essa lenda para tratar do assunto maior. o bem e o mal de cada coisa.

e realmente adorável ter recedido vossa resposta à minha primeira correspondência com tanto entusiasmo e alegria impressos em letras de mão. tanto pela sua alegria quanto pela sua preocupação com o andamentos das questões brasilis... existe aí já um lado bom e outro nem tanto no início de sua resposta. vosso acolhimento para com os problemas destas terras são um alívio gigante. faz-me sentir compreendida apesar dos oceanos! desde sempre. não é à toa que suas tribos se reúnem sob este codinome cujo significado para a remota língua latina é então 'desde a origem', sendo assim, desde sempre. desde sempre nos amamos e desde sempre me compreendem melhor do que as confusas divindades que se espalham mundo afora confundindo-nos todos entres crente, fervorosos carente, entes de fé cega e outros de faca amolada. poucos os que de verdade podem mover montanhas. vocês podem mover as minhas!

entre as tantas absurdas e grandiosas questões humanas nacionais... a minha pequenina angustia habita também uma ilha. uma pequena ilha no sul, com nome de santo. daquele santo católico amante dos e conversador com os animais. voltamos à natureza das coisas. lá habitam dois membros do meu clã sanguíneo, cada um deles com suas dificuldades específicas em lidar com o próprio cotidiano e suas mazelas. o que mais me perturba é a distância limitadora. minhas ações para melhorar a situação parecem pouco perto do necessário e entretanto muito, quiça demais, dentro de minhas possibilidades. minhas emoções... para piorar a situação, se derreteram como esculturas à beira mar... a desestruturação tamanha, promovida pela onda gota d'água - justamente num dia de páscoa em que eu voltava do epicentro sé cheia de alegria musical, tendo encontrado o nosso candidato à papa em pessoa... mas isso é uma grande bobagem e não é lá grande coisa, apenas fato que não ocorre diariamente e dá um jeitão de coisa especial ao dia -a desestruturação maremoto, vendaval, furacão foi copo transbordante para mais de mar. reclamar tornou-se inevitável, por isso perdoem-me por ter deixado escapar essa mazela maldita de minh'alma entre as singelas felicitações mergulhadas em sorrisos que pretendia enviar-vos.

disse bem meu compositor querido de nome chico: já lhe dei meu corpo, estanquei meu sangue quando fervia... a voz que me resta, a veia que salta. olha a gota que falta pro desfecho da festa. por favor, deixe em paz meu coração que ele é um pote até aqui de mágoa! e qualquer desatenção, faça não... pode ser a gota d'água!!! foi gota, foi copo, garrafa, mar e oceanos todos. não me restou opção do que agarrar essas garrafas todas e tentar ajuntar mensagem externas e internas. estou já há quase dois meses nesse trabalho. isolei-me numa caverna e o fogo foi pouco para esquentar, mesmo tendo sob meu olhar um vulcão lá fora, em plena erupção! transportei-me para esta terceira ilha imaginária. para dentro de mim. nadando em fuga. nadando em círculos. aqui estou agora. ferrada. ferramentada de garrafas de todas as coisas e tentando permitir que letras palavras ideias e angústias saiam de uma vez por todas de dentro de mim. de dentro desse emaranhado novelo de muitas linhas de pensamento emboladas. diversas frustrações e medos de todas as cores, de todo aspecto e espectro de mim misturadas por uma decepção pontual e tão tremenda... que só me fez mais foi sentir falta de mim novamente, querer repensar quem sou e raios vim fazer aqui... que vou fazer da minha vida. ou da minha morte? que merecerei assim, tão fraca e impotente que mal me cabe lutar por mim mesma. muitas questões do passado voltando à tona e me cercando à ilha feito tubarões famintos! quem me dera apaixonar-se um deles por mim... e me forçar um significado novo. inevitável voltar as minhas origens mais uma vez. voltar às origens... mais uma vez!

meu cérebro está dilacerado de novo e meu corpo frágil e fraco, de verdade. sempre o sono. o desejo do sonho. um cansaço repleto de vontade de reviver! o sonho é uma brecha de ar para a realidade. uma alternativa à ela, inclusive em relação ao tempo. o sonho é um despertar interior e uma possibilidade de vida extra. lembrar-se deles e organizá-los. os sonhos de dormir e os sonhos acordados... parece-me que em cada garrafa cabe um pedaço de linha colorida para amarrar uma pequena mensagem de socorro. talvez eu pudesse... se conseguir desembolar tanto nó de mim. não, eu não estou melhor. mas não há porque ter dó. não tenha pena, sentirei muita vergonha disso... cada um precisa cuidar das suas próprias feras. é claro que não gostas de saber que estou mal, que bom. mas é melhor ainda poder dividir, poder estar mal e dizer isso... eu, inclusive, também não gosto dessa situação.

existe um outro significado então para vossa presença. como um lado mau outro bom... são coisas simplesmente diferentes e que se complementam. são necessárias para existência uma da outra. como a luz e a sombra. a tua maneira de olhar para a lua como o pai e para o sol como a mãe, difere em absoluto do modo acidental de ser. talvez eu precisa apenas somar ao meu, um novo olhar. mas preciso de riqueza de detalhes e profundidade. para tornar meu masculino em feminino e vice-versa, com o devido cuidado. mergulhando fundo nos meandros de um novo significado. o antigo nunca sairá de mim pois me compõe. quero apenas que algo novo me complemente! desejo conhecer vosso tempo paralelo. o 'tempo do sonho' onde a espiritualidade espiral se apossa do real dando-lhe novos olhares e um novo viés. onde os mitos fundadores se remodelam de acordo com novas interpretações da realidade. assim, pode-se viver os dois paralelos. viver e sonhar fazem sentido juntos. isso dá sentido para muitas outras coisas. eu quero! venham cá, escrevam mais respostas, vou aí, vou ler mais coisas, vou praticar. sim! é na prática que percebemos o novo desenvolver de tudo...

“O conjunto dos nossos pensamentos sobre o que somos e o que outras pessoas são tem que ser reestruturado. Isso não é engraçado, e eu não sei quanto tempo temos para fazê-lo. Se continuarmos a operar a partir das premissas que eram moda na época pré-cibernética, e que foram especialmente reforçadas durante a Revolução Industrial, premissas estas que pareciam validar a sobrevivência individual darwiniana, podemos ter vinte ou trinta anos antes que a lógica ‘reductio ad absurdum’ de nossas antigas posições nos destrua. Ninguém sabe quanto tempo temos, sob o atual sistema, antes que algum desastre, mais grave do que a destruição de qualquer grupo de nações, nos atinja. A tarefa mais importante hoje é, talvez, aprender a pensar de uma nova forma”

vossa presença é precisada. é necessário mesmo estar junto com mais sensações. recebo com felicidade as notícias dos seus mergulhos mais frequentes. tua sabedoria e conhecimentos se ampliam certamente em cada jornada e em todos os sentidos. do prazer e do saber. acho engraçado quando as pessoas dizem 'there is no place like home' nunca pude sentir falta da minha casa. nas poucas oportunidades de afastamento que tive, senti falta das pessoas, mas nunca de mim ou de algo que fosse meu. francamente sinto-me mais presente em mim mesma quando estou longe do que quando estou perto. e, diferente do que acontece com a maioria, me apresento em profundidade e abocanho o íntimo de cada um quanto mais presente em mim eu esteja. a distância preserva ótimas amizades. algumas superficiais, algumas íntimas e possivelmente eternas. temos cá também nossos princípios fundadores. indígenas, aborígenes do pindorama. no fundo no fundo, tanto faz quase tudo! temos todos nossas caixas de pandora.

no universo infinito de possibilidades, a distância é só mais um quesito pequeno. e se aplica em cada pequeno instante ou situação momento específico de maneira diversa... não há meio mundo que separe. não há toque de pele que reúna. o que verdadeiramente nos une é a dedicação que temos, os pensamentos que temos, o cuidado que temos. uns com os outros, entre nós e o mundo. cuidado este que foi absolutamente dilacerado por aquele que deveria estar no papel de provedor e decidiu-se acovardar e tornar-se vítima de sua própria covardia passando a violentar a inocência daqueles que deveriam estar sob sua proteção... além de triste, foi revoltante. essa revolta reviravolta é que atormentou as marés, trocando as luas do céu e confundindo tudo. mesmo com eles, houveram vezes de troca mais próxima bons e maus e de trocas à distância bons e maus também. nada comparado ao malefício de retomar um velho e destruidor vício como o presente apresenta... eu fico pensando que sentido existe entre ir e voltar. o que é sentir falta das pessoas... quando nós mesmos mudamos tanto e nos perdemos no inferno do próprio interior tantas vezes. sem bússola! sem gps! mesmo assim continuarei mandando notícias para os endereços que tenho! mandareis cartas à vossa bela grande ilhota. ilha bela!!! temos cá uma também, menorzica de tudo. mandarei notícias siderais como esta, sempre que houver energia para tal. mandarei em breve, tanto mais quanto possível! meus pedidos coloridos amarrados às linhas de lã já desatadas! escreverei confissões e desabafos sempre. contarei aventuras de todo gênero, reais ou irreais, de sonho ou de carne crua.

achei muito bom que aceitaram a companhia da mergulhadora para estar por aí pelo fundo do mar aprendendo mais e mais com vocês. à caça! em breve comeremos peixe. peixe fresco. comeremos peixe cru e faremos uma festa! com nadadeiras, barbatanas e sons graves, bem graves, tão graves quanto os ecos do centro da terra. abraços clássicos para o canguru e pro koala antes que eu me esqueça de passar em algum ponto turístico durante a entrega da carta. e, vamos ao deserto, onde há muito para plantar! e para ouvir. comeremos peixe cru de pés descalços na terra seca. vendo folhas verdes de um tom sem igual. deixo aquele abraço de quem almeja a gentileza das laranjeiras. aquele abraço!

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