quarta-feira, 29 de maio de 2013

nas rendas da lua...

[ recomendo o áudio 'merda cara' e recomendo ainda observar que lindo o logo do tal 'n3ph3phs' que postou esse fela no tubo! thanks! ah, pra situar-vos esse post é complementar ao 'dançando no lua cheia' ]

nas rendas da lua...
o tecido da memória em pano branco amarelado pelo tempo. coisas que guardamos tão secretamente que... perdemos a noção do que fazer com elas... nem sempre é antes da morte que a vida inteira passa diante dos nossos olhos. tantas vezes, flashes nos fazem retomar as lembranças com cheiros cores e sensações, inclusive térmicas ou táteis ou sentimentos em si... eu perdi muitas memórias e perdi de diversas formas... esse lapso rompante de recordações de si e de sua histórias e suas ressignificações pode ocorrer a qualquer instante e por qualquer razão aleatória. aconteceu com a moça quando encontrou seu lenço. acontece comigo com certas canções, quando vejo atitudes se repetindo, quando sou invadida por saudades ou por imagens variadas. fico inundada do meu não-ser estando solta e presa ao mesmo tempo. presa ao mesmo endereço como uma pássaro que nunca rompeu sua casca e cresceu com esse medo de voar, mesmo cheio de certeza sobre seu destino passarinho... é como a mencionada exata epifania de james joyce, uma repentina revelação da natureza essencial de um objeto, pessoa ou situação. com a única diferença de que passei a vida agindo conforme meu íntimo me impelia e me cobrava... mas sempre entre nebulosas confusões. como se sempre visse sem enxergar com clareza. como se eu soubesse o que fazer mas sem saber a maneira nem o momento... ou como se eu já o tivesse começado a fazer e me perdi no caminho...

assim a moça encontrou sua epifania. sua mão tocou algo macio e frágil escondido no fundo de um caixa: era um lenço desgastado, um objeto macio com borda branca de renda, dado pelo primeiro rapaz por quem se apaixonara e com quem fizera amor, um rapaz cujo coração ela feriu. e, embora não tivesse conseguido esquecê-lo, nunca deixou que ele fosse mais do que um fantasma silencioso acompanhando-a durante as mudanças da vida, um fantasma que ela ainda amava de maneira inocente e juvenil, mas um fantasma, apesar de tudo. foi assim e este trecho é assombroso. perceber que muitas coisas guardadas em mim estão como que vagueando num purgatório e me dar conta do tanto de energia que perco ou de oportunidades e possibilidades que ignoro, deixo de ver, cega por uma paixão horripilante mesmo que linda, romântica, inocente, jovial... ao rapaz em questão atribuo mais do que a ideia de uma simples pessoa que passou pela minha vida, relaciono esse rapaz com meus próprios sonhos que hoje estão aprisionados... e a tal epifania não me ocorre... entre eu e os meus sonhos, fica bem cabida a citação que a moça usa 'e eles se foram: sim, há muito tempo. esses amantes que fugiram na tempestade' e meu tempo aqui é relativo. é muito tanto por ser mais do que posso suportar. e enquanto a moça foi ao sótão procurar um velho trabalho da faculdade e lá percebeu que existia uma jovem da qual todos tinham se esquecido: ela. eu cá fico com meus borbulhões pensando que bom seria se eu não tivesse me perdido dos meus propósitos ou se, ao menos, tendo me perdido não me desse conta. se demorasse assim anos para perceber! ao invés de ficar cotidianamente com essa sensação de esfacelamento! penso se todos se esqueceram também de mim ou se simplesmente sempre desejaram outra coisa em meu lugar e assim fui me tornando algo diverso daquilo que realmente sou. fato é, processo psicotizante certo! estranhamente em curso. ou talvez ainda a confusão seja mais tremenda do que posso enxergar... e isso realmente faz com que eu me engane em todos os sentidos!

a narrativa sobre a moça do livro retrata ainda um episódio de morte. e a perda da morte é sempre avassaladora para os que ficam penando em vida. transforma sentido e revira territórios. isso também me aconteceu. mas eu me calei e lastimei a dor dos outros por muito tempo. agora, cansada de ser forte, não me disponho mais à tolerar toda dor alheia. uma grande parte sim. mas não, tudo não. passaram a haver dores que eu não compartilho. apenas deixo estar e respeito. e as piores lengas são aquelas das quais também eu sofro. agora chega! agora eu digo claramente: aqui aonde você perdeu, eu também perdi então não posso te confortar, segura firme, engole teu choro para quando estiver só consigo. comigo não que cá eu tenho minha parte para doer. a ferida nunca fecha se os outros não pararem de cutucar! mas morrer não é só morrer. o mais grave e morrer-se sem conseguir deixar de viver...

sofrer de lembranças que rondam sem fim e sem finalidade definida. sofrer-se de desejos irrealizáveis. mas porque irrealizáveis? ela o amara por dois anos, naqueles longos verões em que trabalhou no lua cheia. um lugar às margens de um rio, onde se podia dançar a noite inteira, até não aguentar mais. será que é tão difícil assim essa entrega? e se fosse simples como ver a sombra da lua reluzindo nas águas de um rio e sentir-se bem? tipo... iluminada! e se for? e porque não pode ser? e... se estou tão perdida em mim? não seria o caso de livrar-me mesmo de mim mesma? é uma equação complicada... ou uma fuga? bem isso não funciona que eu sei, sei que fujo e não tem sido acertado... ou um mergulho profundo para me livrar de certos conceitos próprios que nem eu mesma conheço mais... talvez. tem uma infinidades de 'talvez' para o meu reencontro. também surgiram muitos talvez na imaginação da moça quando ela pensou em voltar ao tal lugar do passado, que no caso da historinha é o bar-restaurante-boate 'lua cheia' - talvez nem existisse, talvez o rapaz estivesse por lá como antes, talvez só ou casado ou divorciado ou talvez talvez talvez...

talvez um livro bobo qualquer não me fizesse pensar em nada, apenas distraísse a mente #sóquenão ! tinha de ter vindo de presente por causa de um título sugestivo e tinha então que, de algum jeito, mexer comigo. espero que essa busca da moça - que provavelmente pode resultar num lindo final feliz junto ao seu amor de juventude ou no mínimo depois de ter-se reconciliado com ele, com os devidos perdões devidamente perdoados e a certeza de um amor eterno mais fraterno que tantos outros - que no final possa eu também me reconciliar comigo, deixar para lá certos pesos extra desnecessários. me perdoar de verdade. já que o livreto é novelesco... bem...

o engraçado é que no meio dessas lembranças, eu me revejo com a minha mania de deixar rastros e anotar tudo e sinto vontade de ir ler e reler meus passos do passado detalhados. eu escrevi diários praticamente desde que aprendi a escrever! e hoje em dia trato de assuntos cá e acolá, atravessadamente. faço registros diversos sobre diversas coisas e neste espaço onde cabe muita coisa e que foi primeiramente ocupado pelo relato de uma promessa e aqui me comprometi depois em ser livre! continuar a falar do que bem quisesse... vou falar de uma marca triste... do dia em que um dos meus diários, justamente o que contava sobre o meu primeiro namoradinho e nossas primeiras 'namoradinhas'... contava também sobre o verão em que conheci uma grande amiga 'de verão' que carrego até hoje no coração e na vida... um belo dias, talvez pra fofocar ou talvez por curiosidade imbecil de criança mesmo, minha casa foi invadida (eu era besta e costumava deixar a porta do apê aberta, devia ser preguiça de andar com chave e havia ainda uma certa confiança extra na humanidade) por vizinhas, amigas? até hoje não sei por quem ao certo. o diário sumiu e nunca mais voltou. claro que me chateei e me incomodei com o ocorrido desta curiosidade agressiva para além dos limites... mas o pior, o pior, o pior foi que reza a lenda que ele nunca mais foi achado porque atearam fogo ao meu diário verde! destruindo minhas memórias sem critério. como o incêndio de alexandria! não me livro dessa tristeza. cadê a minha epifania? que maledicência de não poder procurar rendas de memórias remotas naquele momento de transformações tão importantes. eu escrevo muito e sempre escrevi porque minha memória tem tendências autistas... eu não me lembro como conheci meu primeiro namorado... e nunca mais vou me lembrar... eu não me lembro de muito coisa... e volto à questão tostines: ir mais fundo e procurar, lembrar, achar, remexer... ou me distanciar, assassinar o passado, atear fogo à tudo de uma vez, me desligar das coisas e das pessoas... um ser eu profundo ou um ser eu tão novo que não seja eu mais? uma vez eu disse à minha mãe que não gostava que ela quisesse saber de tudo sobre mim, porque eu me esforçava em ser de acordo com uma imagem de acordos com as expectativas... isso foi destruidor. faz tempo. acho que desde então (ou desde antes porque eu bem sei que ela também leu meus secretos diários) desde aí não houve mais imagem, não houve mais confiança por nenhum lado (porque ela nunca deixou de ler) e não houve mais sentido em diversas coisas. eu digo 'foda-se' pra muita coisa... mas tem coisa que eu ainda não sei dizer... fo-da-se... e guardo essa impressão de que as pessoas TODAS talvez prefiram me vigiar do que vir à mim para saber de mim... e respeitar minha intimidade e meus limites. agora também e cada vez mais, prefiro escancarar, já enlouqueci 'oficialmente' então... não sobre muita opção.

a moça então, voltando ao livro, colocou a casa à venda e fez as malas pra pegar um velho fusca azul, tipo a cor da calça jeans da liberdade, e ir de volta ao tal rio, ou talvez fosse um lago... foi com as expectativas abertas, e com um olhar renovado para a vida! isso é o que uma epifania pode fazer por você: pode lhe mostrar tudo em perspectiva. a minha epifania, se vier, quando vier... com certeza será sob a perspectiva do espelho - como foi para alice. e o país das maravilhas é tenebroso, repleto de naipes de embaralho com seus reis e rainhas ameaçando: cortem-lhe a cabeça! ela está louca! cortem-lhe a cabeça! é... no fundo eu sei que o fundo do poço ainda não chegou... e eu sei que já estou no caminho então, megulhar é a única opção! inclusive o próximo capítulo 'o retorno' vem ilustrado com o desenho de um pássaro na água... justamente um mergulhão. vou em busca de um tesouro, como esse leço antigo, que me chacoalhe os ossos, esqueleto e estrutura. que me permita renovar as coisas, lavar a alma e estar em novas estruturas. não importa como, onde e quando aconteça, uma coisa é certa: você morre e renasce.

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