terça-feira, 14 de abril de 2015

colegas

escrevo este texto para uma funâmbula. uma mulher que definitivamente admiro e para todos os colegas queridos do circo. escrevo este texto com a minha tão corrente nostalgia mas também com certa vivacidade. já não é mais tempo, em tempos de tudo-em-cima-da-hora... mas pouco importa.

escrevo este texto para o poeta dos sonetos ingleses que deu som à inspiração e fez finalmente com que estas palavras viessem a sair do pensamento com seu má vlast do smetana de hoje data de seu aniversário! o que implica ainda em mais uma razão para dedicar-lhe esta reflexão que na verdade é uma crítica que na verdade é um desabafo.

escrevo este texto por causa de um sagitáro (ou talvez dois). em devoção à ele mas também como um lamento. um triste lamento. porque eu lamento mesmo profundamente todos os momentos em que desejei sua companhia ou alguma atitude e ele não estava presente. as vezes por precisão de coisa outra, outras vezes por falta de vontade mesmo. ou melhor, por outra vontade. é uma pena.

fato é que quando os objetivos se desalinham, pouco há que costure uma trama. o desejo em si parece não ser sustento de longo prazo. o gozo é líquido. o desejo é frágil e na maioria das vezes encontra apenas a saciedade. querer alguma coisa é completamente diferente de edificar. edificar dá (muito) mais trabalho.

no último final de semana de março, de certa forma comemorando, fui ver o circo zanni. velhos e queridíssimos amigos no palco. não gostei do que vi. acho o duma insubstituível... a monga, principalmente, não obedece à nenhum outro domador da mesma forma que obedecia à ele! acho o número dos pratinhos uma pilhéria para uma mulher que considero ser uma das melhores trapezistas do brasil, achei o número da cadeira fraquinho e muito pouco circense. não sei explicar... gostei sim de algumas partes, adorei ter ido! me diverti, vi as crianças às gargalhadas... mas do todo eu não gostei, não saí de lá satisfeita... o único número que eu adorei foi o do arame, justamente o da maíra. mas isso porque tinha visto ela antes e não tinha gostado... assim, numa comparação, saí satisfeita com ela especificamente! mas me arrependo grandemente de, ao final do espetáculo, dar-lhe um beijo -  porque foi a única que apareceu - e cochichar no seu ouvido que tinha visto seu outro espetáculo antes e... disse 'hoje foi muito melhor' comentário desnecessário.

bem, o que rogam então as metáforas? houve um tempo em que o circo era tudo, absolutamente tudo na minha vida. eu tinha certeza absoluta de que faria aquilo pra sempre. eternamente. hoje, depois de extremas idas e vindas, eu olho e penso: eu gosto disso, adoro, amo como sempre amei. mas daquela forma não faz mais sentido. o circo é parte de mim e me pertence. serragem na veia não sai nunca mais. você vê sim o mundo com outros olhos... mas hoje, o grau da lente já mudou mais um pouco e os outros olhos foram transformados por mais tantas outras coisas. concluo que não existem certezas tão certas assim. e a vida segue. e a gente supera tudo. acontece...

antes disso, no fim de fevereiro eu fui assistir ao espetáculo 'vizinhos' do casalzinho maíra e nié. graciosos. mas aquilo me fazia pensar tanto e tanto. eu sentada ao lado dele, com a cabeça girando em caraminholas mil que de certa forma já se assentaram no fundo da xícara mas que definitivamente não saíram de lá... bem, a peça chamava vizinhos mas parecia mais que eles moravam juntos. era confuso talvez proposital. cenário lindo, trilha sonora magnífica, números e gestos interessantes, ok. eis que a srta. campos e suas insanidades - provavelmente absorvidas daquele curso doido da puc... realiza em cena dois momentos simbólicos fortíssimos, estranhos até, nos quais me vejo representada, como num universo simbólico viciado. foi quase um medo.

primeiro veio a vaca, coitada. se arrastando aos pés do macho, manhosa, lamentosa, implorando por atenção. preciso dizer que me vi naquela vaca? e que desejei muito muito muito não ser aquilo. não quero me identificar com aquilo. na verdade não me identifico! mas sou eu, o sol na casa de touro, uma vaca mesmo, vaquinha mansa, deslumbrada, o que seja...

depois surgiu uma coelha que trepava com ele a toda hora e com qualquer coisa até com um pé de mesa. também me identifiquei com ela, a coelha. gosto muito de sexo e já vivi um tempo em que transava mesmo com qualquer 'coisa'. mas, meu imaginário sofrido, que já apanhou feio... não conseguia deixar de pensar na querida coelhinha dele, a lebre que se refere até hoje (se deixar) ao tal cavalo medroso como 'coelhão' ou seja: trinta pontos negativos para mim e para minha libido básica e minhas fantasias não-ridículas. eu tenho vontade de chorar cada vez que penso que ainda depois disso ele fez questão de elogiar uma foto dela e era uma merda de uma foto velha, antiga, e... meu... foda-se! foda-se? eu tenho certeza quase absoluta que ele gostava muito mais de transar com ela do que comigo e ele nunca demonstrou o contrário. pelo oposto, com o adiantamento do tempo e todas as tragédias relacionais que isso traz... temo que ele não tenha mais nenhum interesse por mim.

e tenho uma certa ira com o fato de que, no dia em que desejou amenizar a história da coelhinha, ele veio me dizer que ela tinha cabelo ensebado e era gorda e não sei mais o que... que coisa mais ridícula! quer dizer então que, eventualmente, um dia ele pode falar mal de mim para alguém? como é que se fala mal assim de alguém que você transou, gostou, conviveu, que sofreu quando acabou e tudo... que ridículo...

aí quase no final tem lá uma gravação de um texto da simone e/ou do sartre ou talvez a respeito deles falando sobre posse, traição, relações essas coisas que já nem me lembro mais. mas me lembro da sensação de injustiça. oras, se não quer mais transar comigo que me deixe transar com os outros! podemos ser namoradinhos, amiguinhos, podemos até realmente ter uma relação de verdade do tipo assumir coisas mais 'sérias' e desejar construir algo juntos mas... nem uma coisa nem outra? nem a cama, nem a casa, nem a mesa, nem o banho, nem o cachorro, nem o filho, nem o sonho. o sonho talvez. talvez só no sonho mesmo... por mim. queria mais realidade e concretidão. eu queria sim compromisso e comprometimento, demonstrações públicas de afeto (não precisa ser boçal para fazer isso) proteção segurança atenção... e não essa sensação estranha de que no dia em que deixarmos de ser colegas não seremos mais nada. e sobrará uma lembrança pesada para o dia do circo. também para sempre.

(só e somente só o aniversariante que postou a música sabe a data em que esse post foi escrito de verdade...)

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