terça-feira, 18 de junho de 2013

chuviscos

as vezes as lembranças ficam rachadas. e a rachadura é um marco eterno desconcertante.
era um sábado a noite e chovia enquanto um automóvel qualquer levava uma pessoa específica para casa. na verdade, uma pessoa específica dirigia para sua casa. na verdade muitas... e outras tantas iam de formas diversas para diversos lugares. ou permaneciam.

tem uma música do roberto carlos :: "chuva fina no meu pára brisa, enche de saudade o meu peito"...
era assim mas não exatamente assim. era a lembrança de um velho e romântico hábito. um hábito bobo de achar bonitas as gotinhas de chuva e de achar interessante a visão através do vidro cheio de gotas de chuva. ele não gostava de ligar o limpador de pára brisas... queria ficar dirigindo e vendo ali as gotinhas tão lindas.

mas isso não é nem sequer seguro! é apenas interessantemente bonitinho. uma certa devoção à natureza e uma certa falta de responsabilidade no trânsito... uma certa saudade num sábado à noite aleatório. saudade de pessoas e pequenas coisas que seguem num fluxo diferente da vida. mas todos os rios desaguam no mar.
e toda água que se evapora, uma hora... chove.

esse chuvisco do título também poderia ser uma daquelas aparições/momento poltegeist! bem que podia... um espaço no vácuo do tempo cheio de fábulas em que você se depara com um nada (uma tv chuviscando fora de sintonia) e a partir daquilo se transporta automaticamente para algum sentido supremo e sobrenatural próprios. bastante pessoais e cheio de miudezas internas que fazem-no inventar a razão daquele instante sem sentido. é quando tudo se ultrapassa.
e o que está ultrapassado no passado se faz presente intensamente.

e ocorre o mesmo. igual. o nexo é da mesma saudade das pessoas e coisinhas e lembranças que agora seguem num fluxo diferente da vida. não rolam lágrimas. nenhuma sequer! porque todos os rios desaguam no mar. e toda água que evapora, uma hora essa água-ar vira chuva e vem molhar. e como cantava o jorge ben :: "chove chuva, chove sem parar".

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