avalie a seguinte situação:
um belo e ensolarado domingo você acorda disposto mas devagar como sempre e logo sai correndinho para fazer um favor para uma pessoa muito querida. a pessoa em questão é um pouco desorganizada, ou muito, então você se irrita um pouco, pois o favor acaba sendo mais complexo, mais demorado e mais custoso do que você imaginava. você não consegue esconder sua irritação. mas tudo bem. você não deixa de fazer o que se comprometeu, você reclama o mínimo possível, as coisas acontecem e tudo fica bem. de verdade, você ainda está disposto inclusive à ajudar essa pessoa novamente ao fim do dia ou no dia seguinte. e sempre! você ainda é capaz de tolerar os defeitos dessa pessoa, porque você a ama. mesmo que ela não esteja nem minimamente disposta a mudar um pouco seu jeito, melhorar ou adaptar-se.
da mesma forma ao fim da noite, você pega o celular em suas mãos e telefona para essa pessoa. mas ela se irrita tanto com você que desliga o telefone na sua cara depois de fazer uma pergunta capciosa e quase agressiva.
de forma natural, você havia planejado suas coisas conforme o dia foi passando e tudo foi acontecendo. você vai fazer suas coisas tranquilamente, sem premeditações, sem maldade, sem pensar em muita coisa, sem pensar em nada... você não deve nada à ninguém. você teve um dia de trabalho e tem vontade de celebrar com outras pessoas que você gosta. você vai. você não pensa especificamente naquela pessoa porque você, de verdade, não lhe deve nada. sua vida pessoal não tem nenhuma conexão com a vida pessoal dela. você não deve satisfação e nem sente vontade de trocar com ela informações sobre sua individualidade. você não precisa pensar se aquela pessoa esperava algo de você, se precisava de você... afinal, você já cumpriu o combinado com ela e pronto. ela te perguntou uma coisa e não gostou da sua resposta. ela tem um problema.
entretanto, essa pessoa se sente magoada, excluída. ela se machuca e sofre e isso te incomoda tanto porque você a ama quanto porque você discorda da irritação dela. mas você vai do mesmo jeito, mesmo incomodado, e espera que ela se resolva também do lado dela com os sofrimentos dela. cada um com seus problemas. você conhece os defeitos dessa pessoa e sabe que ela pode ter reações estranhas muitas vezes. mas, desta vez você não está disposto a tolerar. você olha para si mesmo e se lembra que tem o direito de fazer o que quiser. você pôde tolerar alguns defeitos pela manhã. agora de noite você não pode tolerar. você fica bravo e diz à ela que a culpa é dela, você mostra pra ela que as coisas estão dando errado do ponto de vista dela, naquele momento, por causa do jeito dela. você deixa bem claro que aquilo te incomoda. e, neste ponto, mesmo se a pessoa reconhece seus deslizes, mesmo se ela demonstra agir no sentido de mudar-se e melhorar-se e mesmo sabendo o quanto é difícil para ela ter atitudes diferentes daquelas que são parte da sua personalidade. você não suporta aquilo. você não sabe como ajudá-la. você sente que a decepção foi muito longe.
você tolera de manhã. você se decepciona de noite. você é bipolar? você tem coerência? é carnaval! de dia maria sorri e de noite joão fala não? é melhor falar com sinceridade ou o silêncio pode comunicar melhor mesmo sem dizer nada? mas, mesmo sem dizer nada no dia seguinte você vê uma chance de ajudá-la e pensa em fazer isso. só que parece que seu esforço já não vale tanto a pena. mas você fica feliz. acha ótimo que ela mesma esteja se ajudando. talvez você se lembre que essa pessoa, por mais defeitos que tenha, ela vive sem você, ela gosta de você mas não precisa de você para ser feliz. ela quer estar ao seu lado e quer que você esteja do lado dela por escolha. ela não depende de você. ela não te ajuda tanto assim. ela até te atrapalha em algumas das vezes que tenta te ajudar. você quer ir ajudá-la mais um pouco. você até vai indo, mas você não vai.
depois de dois dias muito estranhos. essa pessoa também se magoa com o fato de você falar pouco com ela. você percebe que ela espera que você se desculpe o tempo inteiro simplesmente por você ser como você é. você espera que ela enfrente os próprios problemas (problemas que todos temos e você encara os seus de frente) mas parece que de verdade há uma unilateralidade. essa pessoa não quer estar ao seu lado, essa pessoa não é permeável, nem flexível e espera que você tolere ela o tempo todo e apoie ela e ajude ela, mas você não sente que ela está realmente disposta a fazer isso por você. todos saem machucados. e isso é muito ruim... tem certos domingos que não passam batido e são difíceis de tolerar. que dirá uma convivência! dias, semanas, meses, projetos, anos... a sua vida... você deseja compartilhar seu tempo e seus momentos com pessoas que te proporcionam coisas agradáveis, te ajudam e te dão apoio ou que te irritam num ponto que você não é mais capaz de tolerar? o que é e em que consiste o amor entre as pessoas?
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