terça-feira, 29 de março de 2016

epopéia

nasci

apreendi uma ideia da vida ainda bem pequena


numa ruela de albuquerque

da vila madalena



fui criança sarará
brincando na rua
ouvindo o pio do sabiá
no terreno do marquês

meninota pirilampa
fiz o que quis
experimentei de toda curiosidade
com o menino da vila olímpia

fui virando moça
ganhei medalha e prêmio
recitando poesia no palco e jogando bola
nas quadras do consa


aprendi que a vida é dura

e que as disputas mais lindas e perigosas

ocorrem no escuro, quando somos todos

criaturas da noite



me graduei questionadora
humana, social, libertária
nas festas das faculdades vermelhas
da cidade universitária

mulher maravilha
real, mas na fantasia
aprendi a voar
e aprendi a cair fora da rede e levantar


sofri, e no auge da angústia eu estava num beco

com muitas saídas

e assisti as pessoas chorando

enquanto despetalava margaridas



saí do tempo, saí do corpo, saí do mundo, saí de mim
defendendo o que me era mais precioso
perdi minha pessoa e minhas certezas e ganhei um rótulo
que aceitei com revolta, mas determinada

virei comunicadora
descobri que expressar é mais que a fala e mais que o gesto
que o que mais importa é a conexão sistêmica
entre o meu neurônio, o universo e o resto

me percebi criada
para ser livre-decênte-magistradora
e passei a estar no mundo
com uma responsabilidade renovadora

descobri o som
me apoio nos graves, mântricos, redondos e profundos
lá bemóis e seus outros quinhões
hoje sei que preciso muito de mim


aprendi que o amor só é pra sempre

e que a felicidade só é eterna

no momento em que acontece e você se deixa acontecer completamente

na entrega, quando o instante é sentido



mulher borboleta
quero a intensidade do sol e a profundidade calma do azul
para viver toda a transformação e cada umas de suas fases
e... sei que a vida é curta

cometi atos falhos e atos bélicos
cometi metáforas e interpretei ilusões boas e más
inventei verdades e algumas até foram acreditadas
aceitei que o destino existe...

mas está solto!



(lá sei foi mais um textinho auto-analise eu sei lá porque... tô nessa fase de me ressignificar, eu acho...  tem rimas infantis e imagens dessas que sabe-se lá quem vai entender... mas acho que preciso me 'ter' para poder me 'dar' e doar o tanto tanto tanto que sinto. do melhor jeito)








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